Crônica: O calor e suas frias vinganças

Há 4 anos trabalhando, dedicando exclusivamente e me esquecendo do mundo lá fora, recebi uma promoção na empresa (aquela que sempre almejei durante esses anos), sim eu agora estou como chefe de divisão (aiii, será que conseguirei contemplar as expectativas? Será que não se arrependerão dessa decisão? Que Medo!!). Alguns colegas da empresa combinaram de após o expediente irmos ao Drinks Bar tomar um chopp para refrescar o calor e comemorarmos nosso crescimento profissional!!
Lá vem Rebeca em minha direção: “Melissa, você vai sair com a gente neh?”. Enquanto ela falava eu já imaginava o cansaço de ter que ficar horas em um lugar barulhento, cheio de pessoas totalmente diferentes de mim, sentir aquele cheiro de bebida e perder sono... Comecei comparar mentalmente eu poderia estar deitada no meu quarto cheio de ursos, tomar meu café e descansar... Percebo que Rebeca ainda estava parada do meu lado aguardando a resposta enquanto eu viajo em meus pensamento de uma pessoa de 90 anos. Respondo: “Vou sim, claro, estou louca pra sair hoje mesmo!” (por dentro estava louca pra que todos desistissem na hora de ir).
São exatamente 18:30, faltam 30 minutos ou 1.800 segundos para encerramento do turno na empresa, em outro dia eu estaria bem animada para ir pra casa, mas hoje não, hoje nãoooo irei para meu apartamento de 30 metros, irei sair para um bar, sinto tão desanimada e cansada, mas não posso fazer a anti- social com meus colegas de trabalho. Começo fechando os e-mails, o sistema, organizar minha mesa e anotar na agenda as pendências e o que deveria ser feito no dia seguinte. Como os outros departamentos da empresa fecham primeiro, todos já estão prontos na recepção, da janela dou uma espiada e vejo todo mundo sentado conversando (animados e felizes). As 19h saio de minha sala, todos estavam me esperando pois era a única que estava faltando.
Falei: Vamos gente?!
À caminho do local marcado só conseguia imaginar as atividades domésticas que eu tinha que fazer e que eu queria dormir muito... Esforcei-me pra curtir ao máximo aquele momento, pois teria que mostrar uma cara de feliz.
Enfim chegamos, de longe vejo muita gente, lugar atraente. Fomos acompanhados até uma mesa, percebi que do outro lado rolava um show e algumas pessoas dançavam. Ao garçom todos pediram chopp, eu pedi minha velha e linda água de coco (sim, eu sempre faço isso).
Ao meu lado sentou minha amiga, logo em minha frente o Marcos. A noite foi bem proveitosa (mesmo no início eu não querendo ir), muita conversa, muitas risadas boas, chegou a hora de irmos pra casa. Nessa hora, ouço: “Não vamos agora não, a saideira tem que ser com dança”. Quase enfartei nesse momento!!
Falei que ia ao banheiro (tinha que correr disso, nãooo sei dançar), quando voltei só tinha Marcos sentado e todo mundo dançando em um só passo a música que tocava. Começamos conversar sobre a empresa, planos futuros, vida pessoal e... vida amorosa (essa área eu nunca quis falar sobre)... ele começa com umas investidas diretas e começo a lembrar das olhadas que ele me dava dentro do elevador da empresa quando eu apenas dizia “Bom dia”.
O papo está indo longe demais, pedi licença e fui ao banheiro (novamente) pra tentar me recompor, retoquei a maquiagem, passei um perfume e procurei um chiclete na bolsa, pronto, estou mais aparentada. Por que eu estou preocupada com isso? Não tenho motivo, ele é apenas um colega de trabalho.
Quando cheguei à mesa, ele me convida pra dançar, respondi que não sabia, mas ele além de lindo, disse que me ensinaria. Quando ele passou a mão por minha cintura senti um calor de 50º tomar conta de mim. Ele me encantou com a sensualidade dos movimentos e na forma tão natural e espontânea que ele dança. Nossos rostos estavam muito juntos, quaseeee! Opa, nos beijamos! E foi o melhor beijo de minha vida!! Ele é cheiroso, dança bem, lindo, educado e beija bem! O que eu quero mais da vida? Nada!!
Mas percebi que ele começou a olhar para a moça que estava ao nosso lado, realmente muito bonita e provocante, todos os homens olharam mesmo. Ele rapidamente pediu pra sairmos dali que estava cansado, voltamos pra mesa. Perguntei o porquê ele ficou todos desnorteado? Ele apenas disse: “Aquela moça é minha ex namorada”. Fui em outro planeta e voltei, não que eu estava com ciúmes (foi nosso primeiro beijo e eu ainda não gostava dele, não nos prometemos nada), mas não gostei. Mesmo assim eu queria muito aquele homem, afinal, minhas decepções amorosas eram constantes até aquele dia.
Ele me chamou para irmos à um lugar mais calmo, concordei. Como estávamos em carros separados, dei o endereço do meu apartamento (Rua Flores, Bairro Crescente, Quadra A, nº 132), pois ele disse que levaria o Ricardo em casa e depois iria pra minha. Dez minutos cheguei em meu cantinho de paz, lembrando daquele cara que tem o melhor beijo. Tomo um banho e lembro que amanhã (depois de tudo), irei encontrar o Marcos no meu trabalho. O telefone toca, uma mensagem: “Estou em seu bairro, mas não encontro sua casa”.

Dou um sorriso sarcástico ao pensar que o endereço que passei para o “cara que não tirava o olho da moça da mesa ao lado”, ficava há mais ou menos 6 quilômetros do meu endereço. Fui dormir sem culpa, é sempre melhor que sofrer!

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